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Estado de Minas Online ( Opinião ) - MG - Brasil - 08-02-2015 - 04:00 -   Notícia original Link para notícia
Quem disse que BH não tem carnaval?

Luciana Mayer
Especialista em produção e crítica cultural 
da Partners Comunicação Integrada



Há cerca de cinco anos era normal ouvirmos pessoas falando que Belo Horizonte não tinha carnaval. Na verdade, ninguém ficava na capital mineira. Até mesmo cachorros eram pouco vistos nas ruas da cidade-fantasma. A maioria dos cidadãos acabava viajando para as praias, cachoeiras e fazendas. Isso quando não preferiam curtir os blocos nas cidades históricas de Minas.
Hoje, nos deparamos com um boom do carnaval belo-horizontino. Com o crescimento da folia nos últimos anos, a capital mineira está com a expectativa de receber até 1,5 milhão de pessoas na festa deste ano. A estimativa é que mais de 200 blocos façam a alegria dos foliões.



A repercussão e o investimento de diversos setores estão tão grandes que, pela primeira vez, Beagá terá pacotes turísticos para os foliões do interior e de fora de Minas. O que é ótimo para a economia e o fomento do setor de turismo na cidade. Por outro lado, perdem as cidades do interior com forte tradição carnavalesca. Algumas estão tendo de reinventar suas festas, o que não é ruim. Vivemos e precisamos de constante mudança, pois são elas que nos levam adiante.



O novo carnaval de Belo Horizonte está fazendo todo esse sucesso justamente por ter se reinventado. Os blocos de rua vão além da tradicional manifestação cultural. Eles acabam sendo o reflexo da vontade popular de criar novas formas de se fazer política e pensar o espaço público. O chamado carnaval político da cidade tem ganhado destaque nacional pela irreverência, criatividade e senso crítico de suas marchinhas.



Em 2012, a grande campeã do concurso Mestre Jonas foi a marchinha Na coxinha da madrasta - uma ironia ao então presidente do Legislativo Municipal, Leo Burguês. No ano passado, o hit da folia mineira foi Baile do pó royal, que falava sobre o episódio envolvendo a apreensão de mais de 400 quilos de cocaína no helicóptero da família do senador Zezé Perrella.



Os foliões de Belô também costumam fazer críticas comportamentais. Em algumas edições do carnaval de BH foi comum escutar o refrão: "Chuta, chuta, chuta, chuta a família mineira!". O grito entoado pela multidão é uma afronta à ideia de moral e bons costumes que a tradicional família mineira passa para o resto do país, com o estereótipo de que os mineiros são conservadores, recatados e ponderados. Mas é justamente com o objetivo de remar contra esse arquétipo, que os foliões desejavam "chutar a família mineira". Essa é uma forma de se expressar, de pedir menos hipocrisia e mais atitude.



O crescimento intelectual, político e de senso crítico é inquestionável. Com esse tipo de carnaval, as pessoas são chamadas a refletir sobre questões que vão além do carnaval, que fazem parte do dia a dia. Mas será que o grande aumento dessa festa é bom ou ruim para a cidade? Ainda é cedo para fazermos um julgamento. Apenas o tempo dirá.



Existem pessoas que acham que o bom mesmo era quando existia um carnaval tímido, com pessoas conhecidas, aquela coisa bem mineirinha. Outras gostam da ideia de um carnaval para movimentar a economia, atrair turistas e, com isso, vêm todos os problemas que já conhecemos, como falta de estrutura, segurança, higiene nas ruas e, agora, ainda tem o problema da falta de água!



Bom, isso tudo ainda são especulações e questões que devemos refletir. Porém, o que podemos afirmar é que nosso belo horizonte tem carnaval, sim, e dos "bão". Daqueles que quem vem um ano, quer voltar para cantarolar as originais marchinhas de carnaval, sempre atualizadas com o momento político de Minas!


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