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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 04-02-2015 - 07:48 -   Notícia original Link para notícia
Indústria tem maior queda em 5 anos: 3,2%

CLARICE SPITZ clarice. spitz@ oglobo.com. br


Setor de máquinas e equipamentos registra perda de 23%. Analistas veem impacto negativo de 4,1% em 2015


-RIO E SÃO PAULO- A indústria brasileira levou um tombo no fim de 2014 que, segundo analistas, afetará negativamente o setor este ano: caiu 3,2%, o pior desempenho desde 2009, quando houve recuo de 7,1%. No quarto trimestre, a retração frente ao mesmo período de 2013 foi de 4,1%. Só em dezembro, o recuo foi de 2,8% em relação ao mês anterior, com os bens de capital - setor de máquinas e equipamentos, que sinaliza os investimentos - tendo queda de 23%, a maior desde o início da série, em 2002.



MICHEL FILHO/3-2-2015


Setor automobilístico. Executivos em uma fábrica em São Bernardo do Campo: desaquecimento se fez sentir


O banco Goldman Sachs e a consultoria Tendências calculam uma herança estatística negativa para a indústria este ano de 4,1%. Ou seja, se a produção permanecer estável no nível de dezembro de 2014, haverá retração de 4,1%. O Itaú Unibanco estima essa herança, para o primeiro trimestre de 2015, de retração de 2,2%.


CAMINHÕES, O PIOR RESULTADO


O professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Julio Gomes de Almeida traça um cenário ainda pior, com retração de até 5%, com o ajuste fiscal e um possível racionamento.


- A queda de 2014 é parte de um processo e um indicativo do pior momento desse jogo que a indústria está disputando e perdendo ao longo dos últimos quatro anos - afirma Almeida. - Não acho que 2015 será um ano de recuperação. O tombo deve ser ainda maior, já que o primeiro impacto do ajuste fiscal é derrubar o nível de atividade. A crise da Petrobras afeta muitas atividades, e a falta de água e de energia também pode limitar.


Para Rogério César de Souza, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial ( Iedi), o colapso dos bens de capital reflete a queda de investimentos na indústria:


- O ano de 2015 não será diferente. As expectativas que movem os investimentos não estão nada positivos.


No ano passado, a queda foi generalizada. O pior desempenho foi registrado pelos bens de capital, com recuo de 9,6%, sobretudo, da produção de caminhões, que despencou 16,6% - e 20 dos 26 ramos que ficaram no vermelho. O principal impacto negativo partiu do setor de veículos automotores, reboques e carrocerias, com queda de 16,8%, a maior desde 2003. Outros setores que recuaram foram metalurgia (7,4%), produtos de metal (9,8%), máquinas, equipamentos (5,9%) e outros químicos (3,6%).


A fabricante de caminhões MAN Latin America, do grupo Volkswagen, é um exemplo dessa queda. As vendas da montadora recuaram 11% no ano passado, depois de subirem 10% em 2013. O presidente da empresa, Roberto Cortez, vê um cenário ainda mais difícil este ano, sem chance de recuperação.


- Além da desaceleração da economia, a questão do crédito também mudou. Quem compra um caminhão encara como investimento e, por isso, o custo do capital é muito importante na hora da tomada de decisão - diz Cortez, acrescentando que em janeiro as vendas caíram quase 40% frente a dezembro.


Quem também sofreu com a desaceleração da economia foi a Termomecânica, que fabrica produtos semielaborados de cobre. A produção destinada ao mercado interno, que responde por 83% das vendas, caiu 2% em 2014. O resultado só não foi pior devido ao aumento das exportações, de 22%, que fizeram com que a produção ficasse estável no ano passado.


O diretor de operações industriais da empresa, Luiz Henrique Caveagna, disse que, com a economia desaquecida, a concorrência ficou mais acirrada. Por isso, foi necessário reajustar alguns preços para baixo:


- Mas existe um limite. Nossos custos, como insumos e energia elétrica, subiram. Não dá para fazer mais muita manobra.


O tombo da produção industrial só não foi pior devido às altas da indústria extrativa (5,7%) e de produtos e derivados do petróleo e biocombustíveis (2,4%). Segundo André Macedo, gerente da pesquisa no IBGE, a indústria freou devido ao cenário econômico internacional, que teve reflexos nas exportações e importações, e à evolução mais lenta da demanda doméstica, com a inadimplência e o comprometimento da renda das famílias em patamares elevados.


ECONOMISTA VÊ AJUSTE ESTE ANO


Para especialistas, os dados de dezembro mostram que a falta de confiança dos empresários na economia continua grande. A queda nos bens de capital só foi inferior a janeiro de 2012, quando houve uma questão pontual de mudança na regulação de caminhões, e a dezembro de 2008, quando, na esteira da crise internacional, os bens de capital recuaram 25,4%.


- O câmbio tende a ajustar problemas de competitividade. Mas isso só serve para médio, longo prazo. Tem outras forças que depõem contra o crescimento, como aperto fiscal e crise de energia. Sobrepõem-se completamente a qualquer tipo de ajuda que o câmbio poderia trazer - explica Fernanda Consorte, economista do Santander.


Mas o economista Roberto Padovani, economista-chefe da Votorantim Corretora, considera que, apesar das dificuldades de curto prazo, a indústria passa por um ajuste que resultará em melhora da competitividade. Ele cita a queda no custo de produção em logística e em mão de obra, fruto de uma demanda menor e de condições piores para reajustes salariais reais, e numa apreciação do dólar, que poderá fazer a indústria voltar a crescer em 2016:


- Em vez de olhar para o que já se sabe, que será um ano difícil, deve-se pensar no que virá, e isso não vai acontecer sem arrumação da casa.


E o professor da FGV Aloísio Campelo espera alta de 2,5% na indústria extrativa este ano:


- A indústria brasileira é competitiva em uma série de minérios. A lucratividade das empresas, no entanto, pode não se manter, por causa da queda de preços.


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