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Valor Online ( Finanças ) - SP - Brasil - 02-02-2015 - 05:00 -   Notícia original Link para notícia
Mercado vê giro cambial fraco em 2015

Por José de Castro e Silvia Rosa | De São Paulo


Luis Mendes, do Deutsche Bank: "O mercado corporativo como um todo ficou mais parado no ano passado"


A instabilidade no mercado financeiro com as eleições presidenciais, a estagnação da economia doméstica e a Copa do Mundo resultou em uma queda do volume financeiro negociado no mercado de câmbio brasileiro em 2014. Para este ano, executivos de bancos ainda esperam números modestos no segmento, com alguns até prevendo novo recuo do volume de negócios, dada a perspectiva de crescimento fraco no Brasil e as incertezas no cenário global.


O executivo da área de câmbio da tesouraria do Itaú BBA João Paulo Franco é um dos que não descartam um recuo no giro cambial neste ano, devido justamente à perspectiva de que a atividade econômica continue fraca. Soma-se a isso o fato de muitas exportadoras já terem contratado em anos anteriores linhas de financiamento mais longas e, com a perspectiva de desaceleração da economia mundial, não veem necessidade de tomar novos empréstimos por ora.


"Não vemos um aumento da demanda por linhas de exportação neste início de ano, e muitas empresas têm optado apenas pela rolagem desses financiamentos", afirma o responsável pela mesa de clientes para América Latina do BNP Paribas, Luis Berlfein.


O diretor de câmbio e derivativos para clientes do Citi, Carlos Xirau, vê um recuo das operações por parte das empresas, principalmente de transferências de recursos do exterior, devido à queda nos investimentos das multinacionais em um provável ano de economia estagnada. Além disso, a baixa nos preços das commodities deve afetar as operações de comércio exterior, com impacto sobre o volume financeiro das exportações brasileiras. "Esperamos um fluxo comercial menor que no ano passado."


De acordo com o Banco Central, o volume geral transacionado no mercado de câmbio no Brasil caiu 16,9% em 2014 em relação ao ano anterior, somando US$ 3,037 trilhões. Em 2013, o giro financeiro tinha mostrado um avanço de 8,4%. O dado exclui operações com derivativos de câmbio.



A queda no ano passado foi puxada pelas operações no segmento interbancário, em que bancos realizam empréstimos e zeragem de posições criadas no mercado primário - aquele em que são contabilizadas as operações de importação e exportação e as transferências para o exterior. O giro no interbancário caiu 31,5%, para US$ 1,553 trilhão, anulando o crescimento de 7,2% registrado nas operações de mercado primário, que somaram US$ 1,484 trilhão.


"Esperamos um mercado primário estável ou com pequeno crescimento, caso venha um fluxo maior de investimento estrangeiro", afirma o superintendente-executivo da área de câmbio do Santander Brasil, Maurício Auger.


Na contramão do mercado, o Santander Brasil apresentou um crescimento de 5,3% no volume movimentado em 2014, impulsionado pelo aumento de 10% nas operações no mercado primário. Segundo Auger, o crescimento no mercado primário é reflexo do aumento do número de clientes, principalmente no segmento de pequenas e médias empresas. "Abrimos mesas de tesouraria regionais para atender melhor esse nicho", destaca Auger.


Líder em volume de operações no mercado primário, o Citi Brasil apresentou um crescimento de 8,0% no volume movimentado no câmbio em 2014, que somou US$ 304,5 bilhões. Xirau, do Citi, explica que no ano passado houve aumento do giro de operações por parte dos investidores estrangeiros, enquanto muitas empresas multinacionais anteciparam operações de câmbio para evitar uma volatilidade mais forte após as eleições.


O Itaú Unibanco registrou queda de 19,4% no volume movimento no mercado de câmbio em 2014, perdendo a liderança no ranking para o Santander. O resultado foi afetado pelo recuo de 48,6% no giro no interbancário, enquanto no mercado primário ele mais que triplicou. As operações de câmbio do Itaú BBA passaram a ficar concentradas no balanço do Itaú Unibanco, o que explica a forte redução na presença do Itaú BBA no giro cambial global.



Segundo Franco, do Itaú BBA, os resultados no mercado primário refletem a política "agressiva" de preços, especialmente em operações maiores. Já a queda no interbancário, segundo o executivo, foi uma combinação entre um ano mais "difícil" e o recuo na liquidez no mercado de "casado". O mercado de casado é aquele no qual o investidor assume uma posição no mercado futuro e outra oposta no à vista, buscando zerar riscos e ganhar com a diferença de taxas de câmbio e juros.


Alguns bancos, como o Deutsche Bank, já veem aumento do interesse de investidores estrangeiros pelo Brasil após o Banco Central Europeu anunciar um programa de compra de ativos que deve injetar € 1,14 trilhão até 2016. "Acho que o Brasil está mais bem posicionado do que antes para se beneficiar dessa liquidez maior após o BCE", afirma Luis Mendes, co-head da área de banco de investimentos do Deutsche Bank no Brasil.


O Deutsche registrou uma queda de 41,1% no volume financeiro negociado no ano passado, o que fez a instituição cair da 8ª para a 10ª posição. A queda foi concentrada no mercado interbancário (49,6%), enquanto no primário o recuo foi de 12,9%. "O mercado corporativo como um todo ficou mais parado no ano passado. As empresas pararam para avaliar se era o melhor momento para entrar no mercado ou não", diz Mendes.


Auger, do Santander, lembra que a queda no volume do mercado interbancário em 2014 pode também estar relacionada com a retirada das amarras para as operações com derivativos de câmbio em junho de 2013. Naquele momento, o governo zerou a cobrança da alíquota de 1% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre a ampliação de posição líquida vendida no mercado de derivativos cambiais, numa tentativa de conter a acentuada desvalorização do real na época. Nesse mesmo mês, o BC ainda zerou a alíquota de depósito compulsório para posições vendidas de câmbio dos bancos.


Segundo Auger, com essas limitações era caro carregar posições vendidas em dólar, o que exigia maior giro no interbancário para zerar riscos. "Mas só vamos ter certeza do efeito dessas medidas sobre o giro no interbancário neste ano. Se o comportamento ficar parecido com 2014 é porque o mercado se ajustou."


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