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O Globo Online (RJ) ( Economia ) - RJ - Brasil - 02-02-2015 - 08:09 -   Notícia original Link para notícia
Freio nas exportações

Com queda no preço de 'commodities', Brasil deve perder US$ 14 bi em vendas ao exterior este ano


Reflexo da lentidão econômica global, o barateamento de produtos como petróleo, minério de ferro e soja tem sido saudado como um alento para países desenvolvidos que tentam sair da crise. Mas não é todo mundo que está sorrindo. Por serem grandes exportadores de Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru, Argentina e Venezuela devem sofrer este ano perda de US$ 72,4 bilhões em suas balanças comerciais com a queda dos preços globais. Isso equivale a duas vezes o valor de mercado da Vale na Bolsa. No Brasil, a perda deve chegar a US$ 14 bilhões.


DADO GALDIERI/BLOOMBERGEm baixa.


A conta é do banco Itaú Unibanco, que estimou quanto esses países devem comercializar em este ano e comparou com 2013, antes de os preços começarem a cair com força. O cálculo desconta a economia com a importação de combustíveis, que ficaram mais baratos com a queda da cotação do petróleo, apesar de esse recuo não ter sido repassado para os preços internos.


O impacto nas sete principais economias da América Latina é alto porque foi o preço de produtos básicos que impulsionou essas nações na última década. Mas a combinação de uma economia global em dificuldades e a desaceleração da China, maior consumidora de


do mundo, derrubou as cotações. Tal cenário vem se desenhando há dois anos, mas o tombo de 50% do preço do petróleo no último semestre trouxe a sensação de que os anos dourados acabaram. Em meados de janeiro, o índice de da Bloomberg caiu ao menor nível desde 2002, quando a arrancada chinesa precipitou o boom.


- O preço das funciona como transferência de renda. Quando estão em alta, a riqueza é transferida de países consumidores, em geral mais desenvolvidos, para produtores. Agora, o que ocorre é o inverso - diz Maurício Molan, economista-chefe do Santander.


VENEZUELA É O PAÍS MAIS AFETADO


A fatura é mais alta para a Venezuela, segundo os cálculos do Itaú. Quase metade (46,7%) das perdas na região será paga pela nação de Nicolás Maduro, que deixará de ganhar US$ 33,8 bilhões. O país é dependente da venda de petróleo, produto que mais perde valor. No Brasil, o prejuízo é de US$ 14 bilhões, resultado da diferença entre US$ 33 bilhões em exportações e US$ 19 bilhões em importações, especialmente de combustíveis, que respondem por 17% das compras brasileiras lá fora. Na Colômbia, o impacto será de US$ 15


PERDA POR PAÍS


BRASIL:


Impacto da queda das cotações das commodities no país será de US$ 14 bilhões


VENEZUELA:


O país governado por Nicolás Maduro é o maior perdedor do novo cenário, deixando de ganhar US$ 33,8 bilhões, quase metade do impacto na região


COLÔMBIA:


País perderá US$ 15 bilhões, de acordo com os cálculos do Itaú Unibanco


CHILE:


Importador de petróleo e exportador de cobre, o país sofrerá o menor impacto entre as principais economias da América Latina, deixando de arrecadar US$ 200 milhões


MÉXICO:


Perda será de US$ 3,9 bilhões, segundo o estudo do Itaú Unibanco


PERU:


Produção de minério de ferro, em Minas Gerais: preço das "commodities" em queda afetará desempenho de economias emergentes, que devem perder US$ 72,4 bilhões em vendas


País deixará de ganhar US$ 2,4 bilhões


ARGENTINA:


O país de Cristina Kirchner vai perder US$ 3,1 bilhões com queda de preços bilhões. A menor perda vem do Chile, de US$ 200 milhões, já que o país exporta cobre, mas importa petróleo. Efeitos menos intensos também são observados em México (US$ 3,9 bilhões), Peru (US$ 2,4 bilhões) e Argentina (US$ 3,1 bilhões).


Para João Pedro Resende, do Itaú Unibanco, o cenário deve frear investimentos e reduzir renda e confiança no país.


Por outro lado, a China economizará US$ 175 bilhões. Embora os números do Itaú não incluam Europa e EUA, eles serão beneficiados. Apesar do aumento da produção americana de petróleo, o país continua importador líquido de


A queda acentuada de preços levou alguns especialistas a anunciarem o término do "superciclo" das iniciado nos anos 2000 com a ascensão da China. Nem todos são categóricos em decretar o fim, mas há consenso de que os recordes nas cotações ficaram para trás.


- O pico dos preços de já passou, mas isso não quer dizer que vão ficar abaixo dos últimos 25 anos. É o fim do superciclo. Durante um bom período o entusiasmo e os ganhos com


serão menores. Ao contrário dos três superciclos que vivemos desde o século XIX, a fase posterior não será de colapso, particularmente em alimentos - afirma o economista brasileiro Otaviano Canuto, conselheiro sênior sobre economias do Brics no Banco Mundial (Bird).


O que colabora para isso, diz ele, é a mudança na geografia do Produto Interno Bruto (PIB) mundial: o crescimento econômico em países de renda mais baixa deve manter a demanda por mais forte que em ciclos anteriores, como Índia, Vietnã, Camboja e países da África.


O Banco Mundial prevê que os nove índices de caiam em 2015, com recuperação modesta em 2016. Para as agrícolas, a projeção é de redução de 4,8% este ano, após queda de 3,4% em 2014. Os preços de metais devem recuar 5,3%, após tombo de 6,6% no ano passado. Já o índice de energia, puxado por petróleo, deve cair 40,5% em 2015, seguindo-se a um recuo de 7,2% em 2014.


A expansão da economia chinesa foi a principal razão do superciclo da década passada. Mesmo com a crise econômica mundial de 2008, os preços de


mantiveram ritmo expressivo de expansão. Nos últimos anos, a mudança do perfil de crescimento da China atingiu a demanda. De um crescimento baseado em investimentos e construção - que estimula a compra de metais -, a China busca crescer por meio do consumo.


- Acabaram os dias de crescimento anual de dois dígitos do consumo chinês de sobretudo de metais. Mas não creio em colapso na demanda. A China é uma economia muito maior hoje. Mesmo um crescimento mais fraco exige consumo elevado de metais. Muitos países ainda estão se desenvolvendo e precisam de infraestrutura - diz Caroline Bain, economista da Capital Economics.


A valorização do dólar também derruba os preços das Em geral, a cotação desses produtos anda na contramão da moeda americana, já que são comercializados em dólar. Quando o dólar está mais forte, adquirir a mesma quantidade de produtos exige um montante maior nas moedas locais dos importadores. Isso reduz a demanda, e o preço cai.


EFEITO NO PIB


Artur Moreira Passos, economista do Itaú Unibanco, lembra que a disparada dos preços incentivou investimentos para ampliar a capacidade produtiva. A oferta aumentou num período de desaceleração em vários segmentos, como é o caso do minério de ferro. Canuto diz que, se no pós-crise os emergentes conseguiram se descolar e manter a expansão de suas economias, isso não ocorre agora.


A América Latina já dá sinais de desaceleração. Citando o peso das o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu a projeção para a expansão da região e do Caribe de 2,1% para 1,3% em 2015 e de 2,8% para 2,3% em 2016. O HSBC reduziu de 2% para 0,9% sua estimativa para as nove principais economias da região. Para o Brasil, a projeção passou de alta de 1% para retração de 0,5%.


NA WEB Para economista, agenda de reformas perdeu fôlego no Brasil.


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