Leitura de notícia
Valor Online ( Brasil ) - SP - Brasil - 28-01-2015 - 09:15 -   Notícia original Link para notícia
Lava-Jato derruba projeções de PIB e investimento

Por Juliana Elias | De São Paulo


A paralisia em projetos da Petrobras e das construtoras envolvidas nas investigações da Operação Lava-Jato pode resultar em uma queda na ordem de 15% nos investimentos em infraestrutura no país em 2015 e, com isso, puxar a economia inteira para baixo. Isso confirmaria a perspectiva crescente de uma recessão em um momento em que a atividade já caminha fraca. A estimativa é da Tendências Consultoria, que mapeou o peso das empresas envolvidas no escândalo e calcula que o desdobramento das investigações deve retirar até 1,5 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Isso levou a consultoria a revisar sua projeção de crescimento da economia brasileira em 2015 de alta de 0,6% para queda de 0,5%. "Já contávamos com uma redução na projeção anterior por conta da Lava-Jato, mas o impacto deve ser maior do que imaginávamos inicialmente", disse a analista Alessandra Ribeiro.


Isso significa que, na visão da consultoria, não fosse pelo estouro do escândalo e suas consequências sobre os negócios de algumas das maiores empresas do país, o PIB poderia crescer 1% em 2015, mesmo sob os efeitos negativos de um consumo já fraco e do aperto nos gastos do governo, que já estavam na conta. A Tendências engrossa uma lista de consultorias e instituições financeiras que começam a revisar as estimativas e, em muitos casos, a vislumbrar um PIB negativo no ano, conforme evoluem as investigações da operação da Polícia Federal.



"O efeito multiplicador da Petrobras é muito grande", explica Alessandra. A estimativa da Tendências, com base no histórico do PIB e dos investimentos da empresa, é de que para cada R$ 1 que a Petrobras aplica, alavanca-se mais R$ 1,90 na economia. Além disso, sozinha, a companhia representa cerca de 2% do PIB - é o quanto representaria, anualmente, os US$ 220 bilhões planejados inicialmente no programa de investimentos de 2014 a 2018 da empresa. O peso das empreiteiras é igualmente grande. O levantamento da Tendências estima que os projetos tocados por elas atualmente, uma carteira que abrange a maior parte das obras de infraestrutura do país, representem 2,8% do PIB.


É por isso que a revisão cortou crescimento em praticamente todos os segmentos da economia: o PIB industrial foi revisado de alta de 0,8% para queda de 2,6%, puxado por um encolhimento de 6% só na construção civil. A projeção para a formação bruta de capital fixo (FBCF), a medida do PIB para os investimentos, saiu de alta de 1,1% para queda de 4,3%. Isso deve ter impacto no mercado de trabalho - com desemprego subindo a 6,3% e a renda crescendo 0,2%, em vez de 0,4%. Com consequências também para o consumo, que foi cortado de 0,8% para 0,2%.


O corte generalizado vem pelo entendimento de que a Lava-Jato, somada às próprias questões de financiamento que a Petrobras já enfrentava, engessa a estatal e as construtoras investigadas em várias frentes. Além de problemas financeiros reais, principalmente nas empreiteiras, onde em alguns casos a suspensão de contratos deflagrou problemas de dívidas, segue-se também os problemas jurídicos, que impedem novos contratos ou licitações, e uma crise de credibilidade, o que dificulta a captação de financiamento em bancos nacionais, internacionais e também na bolsa de valores.


"Há implicações tanto legais quanto financeiras, e os efeitos colaterais podem ser maiores do que se imaginava", diz Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra, que revisou o PIB de 2015 de alta de 0,3% para queda de 0,5%, sendo que o "efeito Lava-Jato", sozinho, cortou 0,3 ponto do total. O restante entra na conta de prováveis racionamentos de água e de energia no segundo semestre.


"A Petrobras representa cerca de 10% da formação bruta de capital fixo. Cada 10% que ela reduz de seu investimento tira 0,3 ponto do PIB", explica Kawall. É uma conta parecida com a do banco Credit Suisse, que, em conferência a investidores ontem, estimou que para cada corte de 10% nos investimentos da estatal se perde 0,2 ponto de PIB. O banco revisou sua projeção para o ano também de crescimento de 0,5% para queda de 0,5%.


"Estamos falando de uma revisão significativa em uma cadeia, a de petróleo e gás, que representa um terço dos investimentos da indústria", pontua o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale. Sua projeção para o PIB de 2015 saiu de alta de 0,5%, no cenário de economia fraca e ajustes fortes, para queda de 1%, no cenário da mesma economia fraca piorada pelas crises na Petrobras, na energia e na água.


"A importância da Petrobras para nós é indiscutível, basta olhar o tamanho da participação dela no PAC [Programa de Aceleração do Crescimento]", disse o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Martins. A Cbic, no entanto, vê a crise menos como um colapso da construção nacional e mais como uma oportunidade para as pequenas e médias empresas - "não será por falta de construtora que não haverá investimentos", reforça Martins.


Os investimentos, de qualquer forma, estão parados. "Todas as empresas com algum vínculo a projetos da Petrobras estão com milhares de equipamentos parados em suas fábricas", conta César Prata, presidente do Conselho de Óleo e Gás da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).


Segundo Prata, da metade do ano passado para cá, com os projetos entre Petrobras e empreiteiras suspensos, máquinas que já estavam encomendadas foram abandonadas, enquanto novas encomendas praticamente zeraram. "São produtos feitos sob encomenda para a Petrobras, especiais para cada projeto, prontos, embalados e parados. Não servem para mais ninguém. Para quem vamos vender?", conclui.




Nenhuma palavra chave encontrada.
O conteúdo acima foi reproduzido conforme o original, com informações e opiniões de responsabilidade da fonte (veículo especificado acima).
© Copyright. Interclip - Monitoramento de Notícias. Todos os direitos reservados, 2013.