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Valor Online ( Opinião ) - SP - Brasil - 26-01-2015 - 09:24 -   Notícia original Link para notícia
Editorial - BC deve se manter alerta para trazer inflação à meta

O Banco Central agiu dentro do previsto ao subir os juros básicos da economia em 0,5 ponto percentual na semana passada, para 12,25% ao ano. Mas a sua comunicação melhorou: a nota divulgada logo após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) não deu nenhuma indicação dos passos futuros do ciclo de aperto monetário. No momento atual, dizer menos significa fazer mais. Assim, evitou-se o erro cometido em dezembro, quando o BC intensificou o ritmo de alta dos juros, mas avisou que dali por diante agiria com "parcimônia", esvaziando os ganhos que poderia ter obtido nas expectativas.


O cenário inflacionário segue desafiador, sobretudo no curto prazo, e exige pulso firme para não por a perder o trabalho feito desde o início de 2013, com uma alta acumulada de cinco pontos percentuais na Selic. Os prognósticos para a variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em janeiro e fevereiro, que já eram bem negativos, tornaram-se ainda mais sombrios com as notícias mais recentes sobre o grau de desorganização do setor elétrico, que demandará reajustes maiores do que os previstos nas contas de luz.


O baixo volume de chuvas em janeiro aumenta o risco não apenas do encarecimento da água e energia elétrica, mas também de sua falta para atender à demanda. Hoje, não são totalmente conhecidas as repercussões da seca sobre a oferta de alimentos no país.


A despeito dos sinais emitidos pela nova equipe econômica de que caminhamos para uma contração fiscal neste ano, a inflação ainda será impactada por um bom tempo pela frouxidão que prevaleceu em 2014, que atua com defasagens. Certamente, essa é uma das explicações para a aceleração da inflação de serviços capturada pelo IPCA-15, de 8,35% em dezembro para 8,74% em janeiro, nos dados acumulados em 12 meses.


Além disso, o ajuste fiscal não é apenas virtuoso, com corte de gastos. O governo lançou mão de aumento de impostos, como a Cide e o PIS-Cofins de combustíveis e o aumento de tributos sobre importados, que representará uma alta de custos que tende a ser repassada aos preços finais.


O Banco Central tem afirmado que, vencido o período de maior pressão neste começo de ano, a inflação vai entrar numa longa trajetória de queda ao longo de 2015, até chegar ao centro da meta, de 4,5%, em 2016. Mas, por enquanto, o mercado financeiro não acredita nisso. A projeção mediana dos analistas econômicos é que a inflação fique em 5,7% em 2016, percentual que está mais próximo do teto da meta (6,5%) do que de seu centro (4,5%).


O diagnóstico do BC é que, no curto prazo, a inflação tende a ser mais afetada pelo reajuste dos preços administrados e pela recente desvalorização cambial, mas em seguida outras forças mais potentes vão agir sobre os índices de preços, levando-os para a meta. A mais importante delas é o aperto monetário. A alta de juros feita pelo Copom no começo de 2014 só vai se transmitir plenamente à inflação no primeiro semestre deste ano e, a ela vai se acumular o aperto monetário mais recente, feito depois das eleições.


A mudança da instância da política fiscal também atua com defasagens e seus efeitos vão se fazer sentir sobre a atividade econômica e a inflação provavelmente em fins deste ano e começo do próximo.


Há ainda alguns choques positivos que poderão contribuir para conter as pressões inflacionárias. A queda da cotação internacional do petróleo afeta a inflação não apenas por meio dos preços dos combustíveis, mas também pelos custos de outros derivados. A queda do preço da gasolina reduz as pressões inflacionárias nos Estados Unidos e pode levar o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a adiar a alta da sua taxa básica de juros. O Banco Central Europeu (BCE) anunciou um programa de expansão quantitativa de US$ 1,140 trilhão que tende a engrossar os fluxos de capitais aos Estados Unidos, suavizando a alta de juros dos títulos do Tesouro americano e para as economias emergentes. Esses fatores tendem a se transmitir ao Brasil pela taxa de câmbio, contribuindo para conter pressões inflacionárias domésticas.


O cenário virtuoso de médio e longo prazos traçado pelo Banco Central não é impossível. Mas, para que se tornem realidade, será essencial a política monetária se manter alerta para evitar que as incertezas mais imediatas contaminem as expectativas.


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