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Isto é - SP ( Economia ) - SP - Brasil - 24-01-2015 - 09:48 -   Notícia original Link para notícia
Quebrando o gelo global

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, sobe as montanhas suíças de Davos para tentar dissolver a frieza mundial em relação à economia brasileira. As primeiras impressões são positivas


Por: Márcio KroehnCúpula da neve: encontro em Davos pode ter sido o primeiro passo para o Brasil reconquistar a confiança dos estrangeiros ( foto: EFE/Jean-Christophe Bott)


Os aplausos calorosos recebidos pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de cerca de 80 empresários e investidores presentes num almoço promovido pelo Itaú Unibanco, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, contrastam com os principais indicadores da economia brasileira. Com o Produto Interno Bruto (PIB) próximo a zero, os gastos públicos em alta e a inflação próxima a sair do controle, o Brasil foi colocado na geladeira global. Nos últimos anos, o País vendeu uma história rósea que não se concretizou e provocou a desconfiança internacional.


Seria preciso mais que um discurso otimista para quebrar o gelo. Levy conseguiu, ao usar simplicidade, objetividade e explicar as ações que estão em curso: 2015 será dedicado à reconquista da credibilidade fiscal e ao esforço para recolocar a economia em condições de voltar a crescer. Coincidência ou não, o juro futuro e o dólar caíram e a Bovespa subiu, numa demonstração de que as primeiras impressões foram positivas. "Os investidores internacionais não estavam curiosos. Diria que o sentimento era de expectativa", diz Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, que estava presente no evento.


"E essa expectativa foi atendida de forma positiva, pois a base do discurso de Levy revelou transparência e convicção."Levy embarcou para a Suíça com a missão de gastar sola de sapato e muita saliva. Com a agenda congestionada de compromissos, esteve presente em dezenas de encontros privados. O trecho de seu discurso que mais tem chamado a atenção entre os investidores internacionais é aquele em que assegura que não serão feitos remendos na economia. Parece ter surtido efeito. Em conversas com empresários, investidores e representantes, o ministro da Fazenda reencontrou a disposição de um retorno de investimentos ao Brasil.


É uma injeção de ânimo na economia do País. Pesquisa da consultoria PwC com executivos brasileiros mostra que a parcela que confia no crescimento de suas próprias empresas nos próximos 12 meses caiu de 42%, registrado na edição do Fórum em 2014, para 30% neste ano. Pela primeira vez, em três anos, o número se manteve abaixo da média mundial, de 39%. A desconfiança em relação aos negócios no Brasil se repete entre os estrangeiros, para os quais os mercados emergentes perderam relevância. "O encontro com o ministro Levy foi bastante positivo, principalmente para os estrangeiros, que querem saber se o ambiente de negócios será mais favorável aos investimentos", diz Rômulo Dias, presidente da Cielo.


"Creio que, com a presença dele, várias dessas dúvidas começaram a se dissipar." A ausência da presidenta Dilma Rousseff na cúpula dos negócios mundiais (leia quadro acima) provocou reações diversas entre os participantes do encontro em Davos. Parte dos empresários e investidores considera que, ao colocar Levy como protagonista, ela demonstra que deu liberdade e autonomia para seu ministro agir e mudar o que for necessário na economia. A presença do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, reforçaria o entrosamento entre as políticas monetária e fiscal.


Os críticos, porém, dizem que Dilma escolheu se manter a distância para não ser contaminada caso os pacotes de ajustes deem errado. "A presença de Levy e de Tombini satisfaz o interesse em saber sobre o estado da economia brasileira", diz Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco. Se o que importa é a primeira impressão, Levy parece ter conquistado os estrangeiros. A começar por ninguém menos que Christine Lagarde, a chefona do FMI, que se derreteu em elogios ao ministro. "Levy é um profissional competente e tem credibilidade", afirmou. "Estou encantada por ele ser um ex-FMI."



Virada à esquerda


Quando a presidenta Dilma Rousseff subiu no avião oficial Santos Dumont, na manhã da quinta-feira 22, o trajeto da aeronave não seguiria à direita, rumo à Europa e ao Fórum Econômico Mundial. O destino estava à esquerda, a quase três mil quilômetros de distância de Brasília: La Paz, na Bolívia. Dilma escolheu prestigiar a posse do terceiro mandato de Evo Morales, que foi reeleito com 61% dos votos, em retribuição à presença dele e de outros líderes da América Latina no Palácio do Planalto, em 1º de janeiro. Mais que uma cortesia, a decisão confirma um traço das relações internacionais do Brasil.


O governo Dilma II continuará a privilegiar o relacionamento Sul-Sul e as alianças regionais com países bolivarianos, uma preferência do assessor especial para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia. "É um sinal de que o Brasil tem pouco interesse em se relacionar com os desenvolvidos e ficar próximo do capital produtivo e da tecnologia de ponta", diz Francisco Américo Cassano, professor de relações internacionais do Mackenzie. O Brasil é o principal parceiro comercial da Bolívia, destino de 40% das exportações - o gás natural é o principal produto a cruzar a fronteira.


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