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Valor Online ( Empresa ) - SP - Brasil - 21-01-2015 - 09:42 -   Notícia original Link para notícia
Drogarias e indústria de bens de consumo preveem preços maiores

Por Adriana Mattos, Tatiane Bortolozi e Cibelle Bouças | De São Paulo


O ritmo de consumo nas drogarias perdeu vigor, e a queda ocorre num momento em que o governo anuncia aumento da tributação sobre o setor atacadista de cosméticos - segmento que tem sustentado parte da expansão das farmácias. Espera-se, agora, preços mais salgados - e não apenas de produtos de beleza. Diversos setores de bens de consumo preveem reajustes e vendas mais fracas.


Setores de vestuário, calçados, bebidas e brinquedos, esperam dois efeitos na economia, na esteira das medidas anunciadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, nesta semana: uma retração ou desaceleração nas vendas devido à restrição ao crédito para pessoa física e uma alta generalizada nos preços do varejo. O pacote anunciado pelo governo incluiu o aumento da alíquota de IOF para as operações de crédito da pessoa física de 1,5% para 3%, a elevação na alíquota de PIS/Cofins sobre importação de 9,25% para 11,75%, e o aumento da Cide e do PIS/Cofins sobre combustíveis



Ontem, analistas começaram a calcular efeito da decisão do governo, anunciada na segunda-feira, de cobrar Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) das empresas distribuidoras de cosméticos, assim como já ocorre no setor industrial. A medida começa a valer em 90 dias. Mais da metade destes produtos à venda nas farmácias brasileiras é distribuído por grupos atacadistas.


A medida deve elevar tributação sobre Profarma, Natura, Avon (estas duas, atuam com empresas de distribuição no país) e Hypermarcas. A Natura deve ser uma das empresas mais afetadas, e com menor espaço para repassar o aumento, segundo os analistas de bancos.


Associações setoriais e especialistas já têm dito que essa nova pressão sobre produtos de beleza precisará ser transferida ao consumidor. Especialistas avaliam que ainda espaço para reajustes, antes que as vendas comecem a sofrer.


"Um aumento de 2% a 3% nos preços do varejo seria suficiente para compensar inteiramente o aumento de imposto proposto [...]. A maioria [das empresas] deve passá-lo através de seus preços no atacado", escreveu em relatório o analista do Deutsche Bank, Marcel Moraes. "Ainda é difícil quantificar o impacto potencial de tal aumento de impostos sobre os volumes, mas não seria de esperar uma diminuição de volume em 2015, e no pior cenário, os volumes ficariam estáveis", escreveu. A taxa de IPI a ser cobrada das atacadistas varia de 5% a 42%, a depender do item.


Além do novo imposto, a recente escalada do dólar é outro fator de pressão sobre os preços. "É difícil não ter reajuste. Sabemos de atacadistas que estavam distribuindo produtos segurando um dólar a R$ 1,68, quando a moeda estava a R$ 2,66. Mas agora com o IPI, fica mais complicado segurar porque afeta rentabilidade", disse Erivelton Mastellaro, diretor-executivo do sindicato do comércio atacadista de medicamentos, perfumarias e cosméticos no Estado de São Paulo (Sincamesp).


Em relatório ontem, o Goldman Sachs estimou que a mudança tributária anunciada poderá reduzir em 5% a estimativa do banco para o lucro líquido da Natura em 2015. A equipe de análise não vê, ao contrário do Deutsche, condições para repasse de preços ao consumidor. "Vemos espaço limitado para a Natura implementar reajustes adicionais, além do aumento de 10% já aplicado em 2014", escreveram os analistas Irma Sgarz, Bernardo Cavalcanti e Alencar Costa. A atual cenário de enfraquecimento do mercado de trabalho, inflação e queda na confiança do consumidor afetam iniciativas de repasse desse tipo, explicam eles.


"Sem dúvida, a Natura deve ser a mais afetada pela decisão do Ministério da Fazenda, uma vez que trata-se do 'core business' da empresa, que vem se deparando com crescente concorrência e perda de 'market share', nos levando a crer que dificilmente teria poder de mercado para repassar integralmente qualquer aumento tarifário", escreveu em relatório a equipe de análise do corretora Concórdia.


Na Hypermarcas, a empresa já teria sinalizado, diz o Goldman, que pretende repassar inteiramente a cobrança do IPI ao consumidor. Segundo os analistas, a medida deve impactar 15% das vendas totais da Hypermarcas, já que o grupo vende outros produtos.


Além de Natura e Hypermarcas, ainda entram nesta lista de empresas impactadas as maiores atacadistas de cosméticos do país, como Profarma, Panpharma e Santa Cruz. Ontem, a ação da Profarma, que chegou a cair pouco mais de 4%, fechou o dia com desvalorização de 1,8%. A Natura fechou em leve queda de 0,1%


Entre 2009 e 2013, o mercado de farmácias cresceu 19% ao ano, em média, tornando-se o segmento do varejo que mais se expande no Brasil. Esta taxa, porém, vem perdendo força, reflexo, em parte, da redução de gastos da população. De janeiro a novembro de 2014, o setor cresceu 12,8%. A previsão é fechar com alta de 14% em 2014, segundo a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma). Enquanto as vendas de medicamentos cresceram 11,8% até novembro, os não medicamentos cresceram 14,9%.


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