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Card Clipping - SP ( Notícias ) - SP - Brasil - 11-08-2014 - 11:33 -   Notícia original Link para notícia
Quase dois terços dos endividados no Brasil são reincidentes

As contas a pagar voltaram a pressionar o bolso dos brasileiros, principalmente aqueles que só se atentam para a necessidade de controlar os gastos quando a condição de inadimplente chega ao limite. Dois a cada três consumidores inscritos no cadastro de maus pagadores estão nessa situação por não dar atenção a despesas corriqueiras, como as contas de água e luz, de acordo com estudo realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). O mesmo levantamento mostrou que despesas com o telefone celular e com a TV a cabo, cujos valores também são considerados baixos, têm levado muitos clientes à lista de negativados.


Com a retração da economia e o aumento da inadimplência, o mais grave é que 37% dos devedores admitem que não têm intenção ou condições de pagar as dívidas nos próximos três meses, ainda de acordo com o perfil dos endividados traçado com base nos dados do SPC Brasil. Em Belo Horizonte, o número de dívidas em atraso cresceu 3,39% de janeiro a junho deste ano, segundo o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) da  de Belo Horizonte (/BH). O último balanço da entidade, referente a junho, mostrou que a maioria dos inadimplentes é do sexo feminino (59,05%), e a faixa etária mais endividada (27,61%) está entre 30 a 39 anos, e acima dos 65 anos.


Para a vendedora Michele Ninara, de 30 anos, o impulso feminino de comprar justifica os dados. Com o nome inscrito no SPC, Michele diz que, por comprar demais, está devendo na praça. Preocupada, ela pretende quitar até o fim do ano o valor devido e, para isso, está deixando de comprar supérfluos, como bolsas e sapatos. Não é para todas as belo-horizontinas, no entanto, que a estratégia para acabar com o rombo no orçamento será aparentemente tão simples. Segundo números recentes divulgados pelo Banco Central , 45,7% da renda dos brasileiros está comprometida com dívidas.


Aos 53 anos e sem esperança de um dia acertar o que deve, Orlinda de Oliveira já não sabe dizer a quanto chegam suas dívidas. Assim como a maioria dos inadimplentes no país, Orlinda tem restrições ao nome há mais de cinco anos e diz que a inadimplência é consequência da situação econômica do Brasil. "Lá em casa estão todos desempregados. Crio quatro filhos sozinha e não ganho nem o salário mínimo (R$ 724). Tenho que escolher entre colocar comida na mesa ou pagar as contas", revela.


Por ganhar menos do que gostaria, Orlinda diz que não tem como fugir da condição de endividada e tem optado por comprar comida a pagar as boletas de água e de luz. "Hoje, a gente vende o almoço para ter a janta", diz , garantindo que, quando conseguir algum dinheiro, vai pagar o que deve. "Não importa em quantas prestações, mas quero limpar meu nome."


As histórias não chegam a surpreender o economista Samy Dana, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo. Ele lembra que os gastos com controle mais difícil são justamente os de menor valor, uma vez que poucas pessoas mantêm o costume de anotar tudo o que gastam no dia. "É a velha questão dos parcelamentos da loja, tudo sem juros, em suaves prestações", observa. "A pessoa compra uma calça jeans em cinco vezes, um televisor em 10 vezes e um celular em oito. No fim, acumula tantas dívidas que já não consegue mais se dar conta de quantas são, e por isso não se planeja para pagá-las", revela.


Com o financiamento do carro e, principalmente, da casa própria, a situação é diferente. "Como são boletos com valor maior, as pessoas costumam dar mais atenção a eles. Também tem o fato de que ninguém quer ser despejado de casa ou ter o carro tomado de volta pelo banco pelo não pagamento da prestação", observa Dana.


Desemprego em casa Apesar de as mulheres representarem grande parte do perfil de endividados no país, os homens não estão tão atrás. Em BH, eles representam 40,95% dos inadimplentes. O jornaleiro Charles Diene Vieira, de 40, entrou para essa estatística neste ano. Pela primeira vez, teve o nome cadastrado no SPC. A dívida, segundo conta, veio depois que sua esposa ficou desempregada e teve problemas de saúde. "Além disso, tudo está caro mais nos supermercados. Pretendo esperar o ano que vem para quitar o que devo. Parei as obras lá de casa para economizar", reclama.


 O mesmo sonho de quitar as dívidas tem Vanderlene Soares, de 45. Há muitos anos com o nome inscrito no SPC, Vanderlene diz que adquiriu dívidas ao longo da vida, principalmente depois que se tornou revendedora para uma empresa de cosméticos. "As pessoas compravam comigo e não me pagavam", reclama. Recentemente, o filho usou o cartão de crédito dela e também não pagou a dívida. "Estou endividada e não sei como farei para pagar", diz.


 R$ 1,3 tri pendurados no sistema financeiro


O Banco Central divulgou recentemente que as dívidas dos brasileiros apenas com instituições financeiras chegaram ao patamar recorde de R$ 1,324 trilhão. A situação é ainda mais grave levando-se em conta que, além de já ter comprometido boa parte da renda com parcelas de financiamentos, o brasileiro também está pagando mais caro para quitar esses empréstimos. Até junho deste ano, a taxa média cobrada nas principais linhas de crédito ao consumidor chegou a 43% ao ano, o maior patamar da série histórica pesquisada pelo BC, iniciada em março de 2011.


Apesar de concentrar taxas que podem ultrapassar os 600% ao ano, o cartão de crédito continua sendo um dos principais vilões das dívidas do consumidor. Não por outro motivo, 88% dos débitos com atraso de 90 dias ou mais são com o cartão de crédito, indica o estudo do SPC Brasil. Somadas todas as dívidas não pagas dos brasileiros, o valor médio devido de cada devedor é de R$ 4.007. São números que podem estar subestimados, porque não levam em conta todos os canais de crédito do país.


Os especialistas são unânimes em alertar que as dívidas muito altas e caras podem se tornar, a qualquer momento, impagáveis. Nesse caso, os danos não são apenas materiais. "A sensação de ser despejado de casa ou de ter o carro devolvido ao banco gera um constrangimento enorme na vida da pessoa", diz Sílvio Paixão, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis (Fipecafi). Samy Dana, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo, concorda. Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro, é enfático: "Quando a miséria entra pela porta, o amor sai pela janela".


Pesquisa divulgada na semana passada pela Serasa Experian mostrou que quanto maior é a escolaridade da pessoa, melhor será a relação dela com o dinheiro. Pelo Indicador de Educação Financeira (IndEF), pessoas com ensino superior têm os melhores resultados do estudo. Numa escala que vai de zero a 10, elas tiveram nota 6,3. Na ponta de baixo do levantamento estão as pessoas apenas com ensino fundamental, que tiveram nota 5,9.


Palavras Chave Encontradas: Câmara de Dirigentes Lojistas, CDL
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