Terceira cidade mais visitada pelos estrangeiros que vieram ao Brasil durante a Copa do Mundo, Belo Horizonte se prepara para a Olimpíada de 2016 e tenta consolidar o sucesso

Pedro Ferreira

Publicação:08/08/2014 04:00

Os franceses Max Leon e Oceanne estiveram no Mercado Central ontem e não pouparam elogios à comida mineira e à simpatia dos belo-horizontinos 

O Brasil não ganhou a Copa, mas Belo Horizonte conquistou a atenção dos turistas estrangeiros. Entre as 12 cidades-sede do Mundial, a capital mineira foi a terceira mais visitada por estrangeiros, de acordo com pesquisa do Ministério do Turismo, em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), e foi bem avaliada pelos visitantes. Os índices de aprovação ultrapassaram os 90% entre os turistas internacionais e 80% entre os brasileiros. "Belo Horizonte foi uma das cidades mais bem avaliadas entres os turistas estrangeiros", reforça o diretor de estudos e pesquisas do Ministério do Turismo, José Francisco Lopes.

Com o sucesso, o desafio é aproveitar essa visibilidade internacional e estimular o turismo. E o tempo de planejamento não é longo, pois nos Jogos Olímpicos Rio'2016 BH estará de novo no centro das atenções, pois o Mineirão vai receber jogos de duas chaves do torneio de futebol e foi escolhida pela Associação Olímpica Britânica como base de treinamento da sua delegação.

De acordo com o estudo do Ministério do Turismo, o Brasil recebeu 1 milhão de estrangeiros de 203 nações durante a Copa do Mundo, sem contar os 3 milhões de brasileiros que viajaram internamente. Um quinto deles teve a capital mineira como destino (20,8%), atrás apenas do Rio de Janeiro (70,7%) e São Paulo (43,3%). BH recebeu mais turistas que Brasília (19,1%) e outras cidades já consolidadas na preferência dos estrangeiros, como Salvador (15,3%), Fortaleza (13,8%) e Recife (12,8%).

Foram entrevistados 10.513 turistas estrangeiros em 12 aeroportos internacionais e 10 fronteiras terrestres. Em Belo Horizonte, a hospitalidade do mineiro, a segurança pública e as opções de diversão noturna tiveram aprovação de 94%. "Me encantou a receptividade dos mineiros", avaliou a arquiteta colombiana Dora Stella Orozco, de 27, quando conhecia, em 10 de julho, o Complexo Arquitetônico da Lagoa da Pampulha. A gastronomia também foi bastante elogiada (95,8%). O marido de Dora, o comerciante Manoel Alvarez, de 50, não sossegou enquanto não experimentou o pão de queijo e tomou a famosa cachacinha mineira.

A pesquisa também avaliou 11 quesitos relacionados à infra-estrutura e 10 referentes aos serviços. A limpeza pública de BH teve aprovação de 89,5%; os serviços de táxi, 89,3%; alojamentos, 88,7%; e transporte público, 85,5%. Um exemplo do uso do transporte público ocorreu na partida entre Colômbia e Grécia, em 14 de junho, quando a maioria dos estrangeiros optou por ir ao Mineirão de ônibus expresso ou de BRT. A infraestrutura aeroportuária também teve boa aprovação, de 85,7%.

PESSOAS AGRADÁVEIS A avaliação positiva dos turistas estrangeiros que visitaram BH durante a Copa foi confirmada ontem por franceses que visitavam o Mercado Central. Acostumado a viajar pela Europa e por cidades brasileiras, o consultor empresarial Max Leon, de 30 anos, morador de Paris, elogiou o jeito belo-horizontino de receber turistas e a capital. "A cidade é bonita, as pessoas são agradáveis e a comida mineira é muito boa", disse. Há quatro meses ele se casou em seu país com uma mineira de BH e no domingo farão nova cerimônia em Ouro Preto. "Acho que o fato de Minas ter uma rota de cidades históricas muito interessante contribuiu para que a capital recebesse mais visitantes durante a Copa", afirmou.

A amiga Oceanne Read, de 30, disse que do ponto de vista turístico BH tem menos atrativos que outras capitais por onde passou em sua visita ao Brasil, como Salvador e São Paulo. "Mas por aqui parece que as pessoas têm mais qualidade de vida e menos poluição. A arquitetura é muito bonita e a gastronomia é uma delícia", disse a turista, que já havia visitado as praças do Papa e Liberdade, além da Rua do Amendoim, no Mangabeiras, e o Mercado Central._

De acordo com o diretor de estudos e pesquisas do Ministério do Turismo, José Francisco Lopes, 94,7% dos estrangeiros entrevistados disseram que vão indicar o Brasil como um bom destino turístico e 85% deles pretendem voltar ao país. "O Brasil nunca esteve tão evidência no mundo inteiro. A avaliação foi extremamente positiva", disse. Quanto a BH, disse que foi uma das cidades mais bem avaliadas entres os turistas estrangeiros.


Mais visitadas
Do total de turistas ouvidos durante a Copa, 20,8% disseram ter vindo a Belo horizonte
1. Rio de Janeiro        70,7%
2. São Paulo               43,3%
3. BELO HORIZONTE    20,8%
4. Brasília                  19,1%
5. Salvador                15,3%
6. Fortaleza               13,8%
7. Recife                   12,8%
8. Porto Alegre           11,1%
9. Natal                      8,7%
10. Cuiabá                 7,9%
Fonte: Ministério do Turismo

Torcedores colombianos fazem festa na Savassi. Os visitantes do país vizinho estiveram em massa na capital mineira
Estímulo a eventos e negócios

Passado o maior evento esportivo do mundo, o grande esforço da Prefeitura de Belo Horizonte é levar adiante dois programas que já estão sendo executados, um deles para estimular o turismo de eventos e negócios. "É o segmento mais disputado em todo o turismo do mundo", explica o presidente da Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur), Mário Werkema. "É o turista que valoriza o consumo e gasta mais do que os outros", completa.

O segundo programa em andamento é o BH Receptiva, para identificar as dificuldades existentes e que precisam ser resolvidas para que a capital se transforme efetivamente em um destino turístico. O Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Grande BH, é um caso que vem sendo resolvido, segundo Werkema. "Estamos pulando de 10,5 milhões de passageiros/ano para 16 milhões/ano", disse. Um fórum permanente de discussão também está sendo criado com todas entidades de comércio e indústria de Minas.

A superintendente de políticas do turismo da Secretaria de Estado de Esportes e Turismo, Cláudia Bolognani, disse que o resultado das pesquisas foi surpreendente, uma vez que o Brasil é conhecido e reconhecido internacionalmente como destino de praia, assim como a floresta amazônica, e Belo Horizonte e Minas Gerais foram colocados no topo do desejo com a Copa do Mundo. "Para consolidar Minas Gerais como um destino turístico e lazer, nosso trabalho agora vai ser direcionado para a promoção internacional de Minas Gerais, com foco na capital, seus arredores, cidades históricas e outros produtos turísticos, como o Museu Inhotim, em países que tiveram boa presença de turistas no estado, como EUA, Colômbia, Inglaterra, Chile, Argentina, Alemanha e Costa Rica", disse.

EXPOMINAS Para o presidente da Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares de Minas Gerais (Fhoremg), Paulo César Pedrosa, o turismo de negócio deve ser incrementado. Para isso, ele defende a expansão do Expominas, dos atuais 15 mil metros para 30 mil metros quadrados. "O empresariado deve fazer uma parceria público-privada com o governo para investimentos em turismo, seja turismo esportivo ou religioso", disse. Para Pedrosa, a permanência das seleções do Uruguai, Argentina e Chile em Minas ajudou a atrair mais turistas durante a Copa. O presidente da Fhoremg lembra que nos últimos dois anos BH ganhou 22 hotéis, e que a hotelaria de Minas Gerais não deve nada à do Rio de Janeiro e São Paulo. "Ao contrário, os preços lá são extremamente mais caros do que aqui", disse.


Aprovação confirmada
A pesquisa do Ministério do Turismo reforça levantamento feito anteriormente pela Secretaria de Turismo e Esportes de Minas Gerais (Setes). A pesquisa mostra que a capital mineira recebeu 355 mil pessoas de fora durante a Copa do Mundo, sendo 200 mil estrangeiros (57%) e 155 mil brasileiros (43%). Entre os visitantes de outros países, 96% disseram que indicariam a cidade como destino turístico para amigos e parentes. "A maioria absoluta (92%) afirmou que a cidade e os demais destinos turísticos em Minas Gerais atenderam plenamente ou superaram suas expectativas e afirmaram que retornariam à capital para lazer", conclui a pesquisa da Setes, que mostrou ainda que a hospitalidade destacou-se como o item mais bem apreciado no universo consultado, seguido pela gastronomia, serviços de bares e restaurantes e serviços de hospedagem.


ENQUANTO ISSO...
...BOA PRESENÇA BRASILEIRA
 Pesquisa de demanda doméstica feita pelo Ministério do Turismo em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV) revela que a capital mineira também passou no teste da Copa para brasileiros de outros estados. Foram 6.555 entrevistados nas 12 cidades-sede nos dias de jogos. Os índices de aprovação foram superiores a 80%. O atendimento e a receptividade dos belo-horizontinos tiveram indicação positiva de 97,7%, a segurança pública, 91,9%. Aeroportos, opções de hospedagem, serviços de informações turísticas, limpeza pública e opções de turismo e lazer foram aprovados em percentuais que variam de 80,7% a 84%. O principal meio de hospedagem utilizado foi a casa de amigos e parentes, com 51% das indicações, seguindo a tendência nacional. A maioria dos visitantes foram homens (82,9%), solteiros (62%), com idades entre 25 e 34 anos (51,8%).


NÚMEROS

91,7%
dos estrangeiros que vieram a BH eram homens

15,2%
dos torcedores de outros países eram colombianos. Em seguida, vieram os argentinos (14,2%) e os ingleses (11,5%)

US$ 797
milhões entraram no Brasil durante a Copa do Mundo

95,8%
dos 527 jornalistas estrangeiros ouvidos afirmaram que vão sugerir o Brasil como destino turístico