Folha de São Paulo Online ( Poder ) - SP - Brasil | - 26-05-2014 - 06:03 - | Notícia original | Link para notícia |
Qual é o legado das copas? |
Livro traz visão crítica dos Mundiais no Brasil, Alemanha e África do Sul; jornalistas comentam experiências vividas nos países-sede Privatização do espaço público, remoções de pobres, desrespeito a direitos humanos, gastos exorbitantes, frustrações com resultados para a economia. As Copas dizem respeito a tudo isso, enquanto inflam o poderio da Fifa. Com esse olhar crítico, a fundação alemã Heinrich Böll Stiftung lança "Copa Para Quem e Para Quê?", volume que reúne análises sobre os Mundiais no Brasil, na África do Sul e na Alemanha. Compilando dados públicos mesclados com microentrevistas, os textos traçam um panorama ácido dos torneios. De acordo com a historiadora Marilene de Paula, os 12 estádios brasileiros podem acolher 668 mil pessoas e custaram R$ 8,5 bilhões, com uma média de R$ 12 mil por cadeira. Na Alemanha, esse custo ficou em R$ 3.400, e, na África do Sul, em R$ 5.300. Para além dos números, o livro busca compor um painel engajado e militante, ouvindo movimentos sociais e alertando para mazelas e injustiças. Há espaço para líder comunitário, operário do Itaquerão, ativista político, prostituta, torcedor violento. Há pouco lugar para visões positivas e versões oficiais. Fotos, tabelas e indicações de leitura e de vídeos completam a obra, cujo tom amargo às vezes remete aos incendiários de álbuns de figurinhas. Jornalistas da organização Justiça Global, Glaucia Marinho, Mario Campagnani e Renato Cosentino elaboram o texto sobre o Brasil. As medidas de segurança têm ênfase. Críticas são disparadas contra a "militarização das áreas pobres" (caso das UPPs no Rio), as violações nos direitos humanos, as mudanças legais feitas para atender à Fifa. Para os autores, o direito de moradia foi um dos principais a serem violados no Brasil. Citando dados da Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa, estimam que 250 mil pessoas estejam passando por um processo de remoção no país. A reação de populações removidas, de trabalhadores informais prejudicados com as regras da Fifa e de operários é o foco de Laura Burocco em levantamento do que ocorreu na África do Sul. Pesquisadora de políticas públicas e doutoranda em comunicação pela UFRJ, ela rememora a greve que paralisou as obras um ano antes da Copa. O movimento conseguiu aumento do salário mínimo, redução de horas de trabalho sem perda de remuneração. Burocco destaca pontos positivos decorrentes da Copa africana: melhorias de infraestrutura, de transportes e a criação de um fundo para promover o esporte no país. A questão nacionalista é destaque na análise que o jornalista alemão Christian Russau faz do torneio em seu país em 2006. Lá, não houve notícia de remoções de comunidades, de greves. Ao contrário, ele fala que o Mundial ocorreu num clima de festa, possibilitando que a Alemanha melhorasse sua imagem. Na conclusão do livro, Marilene de Paula critica o marketing da Copa, que, segundo ela, se preocupa em retirar do foco os pobres, trabalhadores informais, pedintes. "Nos processos de remoção no Brasil e na África do Sul, os indesejáveis têm de ser retirados para dar lugar a um novo modelo de cidade, adequado às exigências do mundo globalizado", afirma. Já para o historiador Bartelt, "a Copa no Brasil pode servir de bom exemplo para um processo mundial de conscientização de que megaeventos não podem ser realizados a custo do desenvolvimento social". E pergunta: "Será por isso que a Fifa concedeu as próximas copas a países não democráticos?". COPA PARA QUEM E PARA QUÊ? AUTORES Marilene de Paula e Dawid Danilo Bartelt (org.) Nenhuma palavra chave encontrada. |
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