Leitura de notícia
Isto é Dinheiro online ( Entrevistas ) - SP - Brasil - 22-03-2014 - 12:04 -   Notícia original Link para notícia
Entrevista - Wellington Moreira Franco: Com monopólio, você não tem um cliente, tem um estorvo

Wellington Moreira Franco, ministro Aviação Civil


"Com monopólio, você não tem um cliente, tem um estorvo"O ministro da Secretaria de Aviação Civil, Wellington Moreira Franco, ainda não está satisfeito com o serviço prestado pelos aeroportos brasileiros



Por Denize BACOCCINA


O ministro da Secretaria de Aviação Civil, Wellington Moreira Franco, ainda não está satisfeito com o serviço prestado pelos aeroportos brasileiros, mas diz que, em breve, os terminais privatizados devem exercer uma influência positiva sobre todo o sistema aeroviário. "A concorrência é saudável", disse à DINHEIRO. Até o fim do mês, serão publicados os três primeiros editais do plano de aeroportos regionais, que vai criar uma rede de 270 terminais em todo o País. Ele afirma que muitas companhias aéreas estrangeiras estão interessadas no mercado brasileiro, mas que a mudança na lei que proíbe capital externo no setor depende do Congresso. Já para reduzir o custo das empresas, com fortes prejuízos nos últimos anos, ele sugere a redução do ICMS sobre o combustível de aviação em São Paulo. "Já falei com o Alckmin", diz ele. "Mas não cantou no Diário Oficial."


DINHEIRO - O governo já privatizou os cinco maiores aeroportos do país, em São Paulo, Brasília, Campinas, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Outros terminais serão concedidos?


WELLINGTON MOREIRA FRANCO - A presidenta Dilma adotou uma política sobre aviação civil, que começou com a decisão de transferir a aviação do mundo militar para o mundo civil, com exceção do controle do espaço aéreo, que ainda está sob comando militar. Outra decisão foi a de enfrentar o atraso na infraestrutura física. Para melhorar essa infraestrutura, a presidenta trouxe o capital privado e a experiência dos melhores aeroportos do mundo. Pelos cinco já concedidos transitam mais de 50% dos passageiros dos voos nacionais e 80% dos internacionais. Isso vai promover uma mudança de patamar. As inaugurações já começam agora em abril, em Brasília, e em maio teremos em Guarulhos e Viracopos. No dia 31 de março vamos assinar os contratos para a concessão de Confins e Galeão. Não tenho dúvida de que a partir de abril começaremos a viver uma nova realidade na infraestrutura aeroportuária. Esses aeroportos estarão operando no século 21 e vão gerar no passageiro uma expectativa muito elevada.



DINHEIRO - Isso não vai levar a uma exigência maior em relação aos aeroportos da Infraero?MOREIRA FRANCO - Exa­tamente. É isso que espe­ramos.
DINHEIRO - Outros aeroportos serão concedidos?MOREIRA FRANCO - Essa decisão ainda não está tomada. Nos últimos dez anos, o número de passageiros aumentou de 30 milhões para 110 milhões. É uma pressão brutal sobre a infraestrutura. DINHEIRO - Hoje, quando um aeroporto é fechado por causa da chuva, demora muito tempo até que o tráfego volte ao normal depois da reabertura. Essas obras diminuíram a capacidade dos aeroportos?MOREIRA FRANCO - Não, ao contrário. Tanto Guarulhos quanto Viracopos e Brasília estão fazendo obras com os aeroportos em funcionamento. Quando se fecha um aeroporto por causa da chuva, todo o sistema se desorganiza. É normal que demore a voltar. Mas temos critérios de medição de atraso, e ele diminuiu muito. No Carnaval, tivemos apenas 3% de atraso nos voos, acima dos 30 minutos. E o número de passageiros cresceu 11% sobre o ano passado. DINHEIRO - Já faz mais de um ano desde que as empresas privadas começaram a operar em Brasília, Viracopos e Guarulhos. O sr. nota mudanças?MOREIRA FRANCO - Claro. Já temos mudança de pista, pátio, esteiras. É um processo.



DINHEIRO - As melhorias nesses três aeroportos estão estimulando mudanças no restante da rede aeroportuária brasileira?MOREIRA FRANCO - Acho que ainda não estão acontecendo essas mudanças. As melhorias começarão a ter efeito sistêmico quando as pessoas começarem a dizer: "Eu fui muito bem cuidada em Brasília, mas pessimamente cuidada no aeroporto tal." Por enquanto, estamos com as obras. DINHEIRO - Ainda não houve uma corrida pela qualidade?MOREIRA FRANCO - Na minha opinião, ainda não. DINHEIRO - E vai haver?MOREIRA FRANCO - Não tenho dúvida. Vamos mudar de patamar. É uma questão de cultura, de atitude. Uma coisa é você viver no monopólio. Você não tem cliente, você tem um estorvo. Vamos ter concorrência no sistema aeroportuário brasileiro. E a concorrência é saudável. Fazemos periodicamente uma pesquisa de satisfação com os passageiros e a última mostrou que Viracopos agora é o melhor do Brasil. Antes era o antepenúltimo. No futuro, o consumidor vai poder escolher, quando quiser viajar ao exterior, se prefere o aeroporto de Brasília, Gua­rulhos, Viracopos ou Ga­­leão. Vai escolher de acordo com as conexões que cada aeroporto oferece.



Blocão: líderados por Eduardo Cunha (à esquerda), deputados da base votam contra o governo


DINHEIRO - Além de São Paulo, Rio e Brasília, o governo pretende fomentar a criação de outros hubs?MOREIRA FRANCO - O governo não faz isso, quem faz é o mercado. Brasília está se tornando um hub agora. E isso foi decidido pelas companhias, mesmo o aeroporto sendo "merreca". Mas acho que há potencial de criação de outros hubs, em Minas Gerais e também no Norte e no Nordeste. DINHEIRO - Quando o plano de aeroportos regionais começa a sair do papel?MOREIRA FRANCO - Os três primeiros saem até o fim de março. Ainda não podemos dizer quais são as primeiras cidades porque existem variáveis que não estão sob nosso poder, como a licença ambiental. Fizemos um estudo para 270 aeroportos, baseado em projeções de crescimento, em demandas das companhias aéreas. A ideia é que 98% da população brasileira tenha um aeroporto a menos de 100 quilômetros de distância. Os projetistas já visitaram 180 locais. Além disso, vamos criar uma política de subsídios ao passageiro. A referência do preço será a concorrência do modal rodoviário. Ele vai poder escolher entre ir de ônibus ou de avião. Não pode ser como no passado, a aviação só para rico. DINHEIRO - Como será esse subsídio?MOREIRA FRANCO - Haverá um número de assentos com preço equivalente ao do ônibus. O governo cobre. Ainda não temos os detalhes. O Tesouro está elaborando o projeto, que será enviado ao Congresso o mais rápido possível.  DINHEIRO - O Orçamento tem recursos para o subsídio?MOREIRA FRANCO - Esse dinheiro vem do Fnac (Fundo Nacional de Aviação Civil), que recebe os recursos da outorga dos aeroportos. So­­mente neste ano, o fundo vai arrecadar R$ 3 bilhões. O plano de aviação regional deve custar R$ 7,3 bilhões. DINHEIRO - Quantos novos voos devem ser criados com os aeroportos regionais?MOREIRA FRANCO - Não sabemos. Vai depender da demanda, das companhias.



O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin


DINHEIRO - As empresas aé­­reas têm registrado prejuízo nos últimos anos, apesar do crescimento do número de passageiros. O governo está preocupado com o mercado?MOREIRA FRANCO - Eu não vejo prejuízo. Eu diria que elas não estão tendo grandes retornos. DINHEIRO - Elas reclamam muito do preço do combustível. O governo estuda alguma redução de imposto ou subsídio?MOREIRA FRANCO - O impacto do preço do combustível é sempre muito alto para esse setor. Seria uma grande contribuição se os Estados diminuíssem o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). DINHEIRO - Quantos Estados cobram ICMS no teto?MOREIRA FRANCO - O mais importante, São Paulo, cobra 25%. E é onde pesa para as companhias aéreas. Eu já conversei sobre isso com o (governador Geraldo) Alckmin, conversei com o (Andrea) Calabi (secretário da Fazenda de São Paulo). DINHEIRO - Alguma abertura para a mudança nessa alíquota?MOREIRA FRANCO - Toda. Mas não cantou no Diário Oficial, que é o que importa. Aí acontecem coisas assim: dois aviões abastecendo no aeroporto de Guarulhos, um ao lado do outro. Um vai para Buenos Aires e outro para Salvador. O voo de Buenos Aires já custa 25% menos. E aí as pessoas ficam se perguntando por que é mais barato ir para o Exterior do que viajar pelo Brasil. É por isso. O combustível representa uma parte importante dos custos das companhias aéreas.



DINHEIRO - Além disso, que depende do Estado, o governo federal pensa em tomar alguma medida para reduzir o custo das empresas do setor?MOREIRA FRANCO - Estamos fazendo várias coisas. Por exemplo, o Decea (Departamento de Controle de Espaço Aéreo) está mudando as rotas de voo, diminuindo o tempo de viagem. Isso vai reduzir os custos das empresas. É assim que o governo ajuda. DINHEIRO - O governo pretende abrir o mercado para empresas estrangeiras?MOREIRA FRANCO - Não há hipótese de ter cabotagem aqui dentro (embarque e desembarque em trechos intermediários de uma viagem internacional). DINHEIRO - Mas elas poderiam atuar mesmo no mercado doméstico?MOREIRA FRANCO - Para isso seria preciso mudar o Código Brasileiro da Aeronáutica, que determina que as empresas estrangeiras só podem participar com até 20% do capital das empresas. DINHEIRO - E o governo é a favor da mudança? Seria bom para o mercado se houvesse empresas estrangeiras?MOREIRA FRANCO - Quanto mais empresas, mais competição e concorrência, melhor. Mas quem tem que mudar isso é o Congresso. 


DINHEIRO - Há interesse dos estrangeiros no setor?MOREIRA FRANCO - Não faltam empresas querendo entrar no Brasil. Nós somos um grande mercado. O segundo mercado que mais cresce, depois da China. Temos a segunda frota de jatos executivos e a primeira de helicópteros do mundo.  DINHEIRO - O sr. é um nome importante do PMDB. A aliança PT-PMDB corre o risco de não se repetir nesta eleição? MOREIRA FRANCO - Nenhum. Está mais sólida do que rocha.  DINHEIRO - Do jeito que a relação está hoje, ela atrapalha a aprovação de projetos de interesse do Executivo no Congresso. O sr. vê risco para a governabilidade?MOREIRA FRANCO - A essa altura, não vejo esse risco. Já estamos entrando em processo eleitoral.


Nenhuma palavra chave encontrada.
O conteúdo acima foi reproduzido conforme o original, com informações e opiniões de responsabilidade da fonte (veículo especificado acima).
© Copyright. Interclip - Monitoramento de Notícias. Todos os direitos reservados, 2013.