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Valor Online ( Finanças ) - SP - Brasil - 26-02-2014 - 09:57 -   Notícia original Link para notícia
Cartão pré-pago encolhe em viagem

O aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) provocou forte retração no uso de cartões pré-pagos por turistas brasileiros no exterior em janeiro, mostram dados do Banco Central. Ao mesmo tempo, o cartão de crédito ganhou uma sobrevida no bolso do viajante, mesmo tendo tributação semelhante a do pré-pago. O câmbio em espécie, que passou a contar com um bônus tributário, também foi mais usado.


Cruzando dados do Banco Central (BC) é possível estimar que a participação dos cartões pré-pagos nos gastos com viagens internacionais caiu de 13% em dezembro para 5% no primeiro mês de 2014. Esta é a menor fatia desde agosto de 2012, quando o BC passou a divulgar dados da modalidade. Já o uso do cartão de crédito, que tinha recuado a 44% em dezembro, subiu para 51% dos US$ 2,120 bilhões gastos com turismo no exterior em janeiro. O câmbio em espécie avançou para 36%, maior nível desde setembro de 2012, vindo de 31% em dezembro.



Se o avanço do dinheiro em espécie já vinha sendo alardeado pelas corretoras, a força do cartão de crédito surpreende. Seja pela comodidade, seja pela vantagem de pontuar no programa de benefícios (em especial nas milhas aéreas), os viajantes preferiram usar o cartão que já tinham na carteira a ir atrás de um pré-pago. Em 2013, o cartão de crédito registrou a menor participação desde janeiro de 1995 nos gastos no exterior.


Depois do tombo em janeiro, quem aposta no pré-pago tem buscado maneiras de manter o interesse do viajante pelo produto - mesmo que isso encolha as margens da operação. No rol de estratégias está um maior desconto na taxa de câmbio do pré-pago, a atuação mais focada em nichos (como intercambistas e empresas) e a elaboração de programas de benefícios para os cartões da modalidade, na tentativa de recuperar parte do espaço perdido.


"Em janeiro, minha margem com o cartão pré-pago caiu 1,2 ponto percentual", afirma o vice-presidente executivo da Confidence, Andreas Wiemer, uma das maiores do segmento. Os descontos na taxa de câmbio puxaram essa queda, diz. Em janeiro, na comparação com mesmo mês de 2013, a queda no volume de câmbio no pré-pago foi de 45% na corretora. Na outra ponta, o volume de câmbio em espécie cresceu 30%.


Na Cotação, que pertence ao Banco Rendimento, os cartões pré-pagos representaram 30% das operações de câmbio em janeiro e em fevereiro, enquanto a moeda foi 70% das entregas. Antes do IOF, era meio a meio, diz o diretor da distribuidora de câmbio turismo da Cotação, Alexandre Fialho.


Na empresa, que conta com 60 filiais pelo país, a estratégia para manter a atração do pré-pago foi aumentar o desconto na taxa de câmbio. Como o custo operacional do cartão é menor em comparação com o câmbio em espécie, a Cotação oferecia um desconto de 0,5% no plástico. Agora, depois do IOF, subiu para 1%.


Em valores absolutos, os brasileiros gastaram US$ 1,073 bilhão no cartão de crédito em janeiro, com alta de 11% sobre o mês anterior. O pré-pago respondeu por US$ 95,6 milhões em gastos, com queda de 65%, na mesma base. Já o dinheiro vivo somou US$ 773 milhões, com alta de 11% sobre dezembro. Para completar, há também uma fatia de US$ 178,4 milhões gasta em outros meios de pagamento, como cheques de viagem e depósitos.


"Vamos reforçar a proposta de valor do pré-pago", afirma o vice-presidente de novos negócios da MasterCard, Alexandre Magnani. A bandeira de cartões costurou parcerias com lojas em Miami e com a rede Dufry, de lojas free shop de aeroportos, para oferecer descontos específicos para quem pagar no pré-pago. O objetivo é "compensar" parte do ônus que o aumento do IOF trouxe ao produto.


A bandeira American Express adota estratégia semelhante para seus pré-pagos, com descontos em nomes como Macy's e Bloomingdale's. "Ao realizar compras nessas lojas e usar os descontos que variam de 15% a 30%, o custo com o IOF é amortizado", diz Rose Del Col, vice-presidente responsável por pré-pagos. "Houve uma pequena queda nas recargas em janeiro e fevereiro entre quem já tinha o pré-pago. Quem já conhecia, não deixou de usar."


O aumento no IOF de 0,38% para 6,38% foi anunciado em 27 de dezembro. Não só o cartão pré-pago passou a pagar essa alíquota maior, como também saques em moeda estrangeira no exterior e compras de cheques de viagem. Assim ficaram com a mesma alíquota cobrada no cartão de crédito desde maio de 2011. Apenas a compra de moeda em espécie segue pagando 0,38% de IOF.


Com essa brecha, os relatos das casas de câmbio foram de forte crescimento na demanda por moeda em espécie. Algumas corretoras viram aumentos de demanda que chegou a 80% ao longo do mês de janeiro. Os dados do BC confirmam um crescimento, mas menos explosivo do que o relatado pelo mercado, que chegou a apontar falta de moeda em espécie em algumas localidades distantes dos grandes centros do Sudeste e Sul.


"O crescimento na demanda por papel moeda de certa forma compensa parte das perdas no pré-pago", afirma o gestor da área de câmbio e turismo do Daycoval, Eduardo Campos. "Temos trabalhado em nichos, o que diminui a queda no pré-pago. Nosso alvo são intercambistas, grupos de viagem para Disney e empresas, onde há mais necessidade de controle do gasto."


O diretor de uma corretora afirma que, já que o custo se igualou, foi mais cômodo para o turista manter os gastos no cartão de crédito que ele já possui do que realizar operação de câmbio e carregar o pré-pago. A desvantagem, nesse caso, é que ele fica sujeito à variação cambial até o fechamento da fatura, coisa que não acontece quando se opta pelo cartão pré-pago, que "trava" o preço do dólar no momento da operação.


A Associação Brasileira das Corretoras de Câmbio (Abracam) continua tentando um espaço na agenda do ministro da Fazenda, Guido Mantega, para levar uma carta pedindo uma reconsideração da medida. No entanto, diz o presidente da associação, Tulio Ferreira dos Santos, ainda não foi possível agendar uma audiência. "Estamos tentando por meio da assessoria e não estamos conseguindo", disse.






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