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Folha de São Paulo Online ( Mercado ) - SP - Brasil - 15-02-2014 - 13:58 -   Notícia original Link para notícia
Em defesa da Copa do Mundo

Além de elevar a autoestima, a Copa multiplica ganhos com turismo e serviços e gera milhares de empregos


Investimento não é gasto. Qualquer um que se aventure ao livre empreendimento --de uma carrocinha de pipoca à construção de uma hidrelétrica-- sabe disso. Gasto não tem retorno; investimento tem. Visto isso, falemos da Copa do Mundo.


Está em curso uma campanha nacional contra sua realização, o que, além de equívoco do ponto de vista econômico, é uma leviandade política e social. Busca-se, por essa via, atingir o governo. Mas a Copa não é do governo: é do país --e é ele o atingido.


Foi o Brasil, não o governo --embora ele lá o representasse--, quem batalhou, concorrendo com adversários do porte da Espanha e da Inglaterra, para sediar o evento. E o fez por saber de seu significado não apenas econômico mas também psicossocial.


A Copa, além de elevar a autoestima da população --que tem no futebol sua principal fonte de lazer--, multiplica, entre outros, os ganhos com turismo, serviços, construção civil e alimentação e gera milhares e milhares de empregos diretos e indiretos.


Estudo desenvolvido pela consultoria Ernst & Young, em parceria com a Fundação Getulio Vargas --"Brasil Sustentável "" Impactos Socioeconômicos da Copa do Mundo de 2014"--, constata que o evento já quintuplicou os investimentos diretos, injetando R$ 142,39 bilhões no período 2010-2014.


Os investimentos diretos, em infraestrutura, construção e/ou reforma de estádios e organização, são de pouco mais de R$ 22 bilhões, e boa parte deles --frise-se isso!-- privada.


Considerando os impactos em inúmeros setores interligados --alimentação, bebidas, rede hoteleira, serviços essenciais (luz, água, esgoto)--, calcula-se o ingresso adicional de R$ 112 bilhões, o que gerará, segundo esse estudo, mais de 3 milhões de empregos, impulsionando o consumo interno.


Somente no turismo, o impacto econômico da Copa das Confederações, evento de expressão bem menor, foi de R$ 740 milhões, segundo a Embratur. Mobilizou 230 mil brasileiros e 20 mil estrangeiros. Para a Copa do Mundo, a projeção, entre turistas brasileiros e estrangeiros, é que superem a casa dos 3 milhões.


Quase a totalidade das obras estava prevista por se tratar de obras estratégicas. Seriam realizadas com ou sem Copa, segundo o governo. Tudo isso ficará para além do evento.


Não obstante, os que engendram a campanha contra a Copa --e infernizam as ruas do país, com ações predadoras, a pretexto de manifestações democráticas-- partem de uma argumentação desonesta, que só exibe os investimen- tos (apresentando-os, claro, como gastos) e insuflam a população a protestar.


O discurso socialista, que supõe possível banir a pobreza sem gerar riqueza, sonha com um Estado provedor, sem atentar para o dado elementar de que, para prover, é preciso ter recursos. E o Estado não gera recursos; capta-os da sociedade, que, por sua vez, para gerá-los, precisa de empreendimentos que gerem riqueza. E a Copa, como está mais do que demonstrado, assim o faz.


Pesquisa do Datafolha constata que 63% dos brasileiros, apesar da implacável campanha anti-Copa, são favoráveis à sua realização no Brasil. Apenas 21% são contra. Esses percentuais seriam bem mais expressivos se os números que expus fossem do conhecimento do público. Infelizmente, não são. Não por falta de dedicação e competência do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, mas por uma inexplicá- vel falha de comunicação do governo e da Fifa.


Compartilho da perplexidade do escritor Marcelo Rubens Paiva, que, há dias, perguntou: "Não vai ter Copa no país que mais Copas ganhou? O único que esteve em todas as Copas e chegou a sete finais? É como se os franceses organizassem o movimento social "pas de baguette" (nada de baguete); e os americanos, no "turkey on thanksgiving" (sem peru no dia de Ação de Graças)".


Ou seja, nada mais surrealista que o País do Futebol rejeitá-lo, em nome de argumentos desonestos, que transformam lucros em perdas, e oportunidade --força motriz dos grandes negócios--, em desperdício. Não há dúvida: quem assim age, por ignorância ou má-fé (ou ambas), incide em crime de lesa-pátria.


KÁTIA ABREU, 51, senadora (PMDB/TO) e presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), escreve aos sábados nesta coluna.


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