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Estado de Minas Online ( Economia ) - MG - Brasil - 15-01-2014 - 08:43 -   Notícia original Link para notícia
PIB de costas para a Copa

Mundial não embala avanço da economia brasileira e atrasos nas obras reduziram ímpeto dos investimentos. Gastos com infraestrutura não chegam a 2,5% do Produto Interno Bruto


Deco Bancillon


Publicação: 15/01/2014 04:00


Brasília - A decisão do governo de investir o dinheiro público em estádios de futebol em vez de direcioná-lo para projetos de mobilidade urbana vai reduzir o impacto da Copa do Mundo no crescimento econômico do país. A avaliação de especialistas é de que a contribuição do evento esportivo ao Produto Interno Bruto (PIB) será menor do que se esperava inicialmente em função dos atrasos na ampliação e na reforma de aeroportos e a postergação de obras de infraestrutura, como o trem-bala, que nem sequer saiu do papel.

O Itaú Unibanco previa que a Copa aumentaria o PIB do país em 1,5 ponto percentual em um período de três anos, entre 2013 e 2015. Mas decidiu cortar a projeção para algo em torno de 1 ou 1,5 ponto. "Com viés de baixa", diz o economista Caio Megale, responsável pelo estudo. O motivo? "Acreditamos que a nossa projeção inicial estava um pouco superestimada, já que houve uma redução nos investimentos programados para a Copa, sobretudo em projetos de infraestrutura", explicou.

Parece pouco, mas, tendo em vista o tamanho da economia brasileira, isso significa até R$ 20 bilhões a menos no PIB, segundo cálculos preliminares. O menor impacto no crescimento se deve, sobretudo, a atrasos nos projetos tocados pelo setor público. Em Cuiabá, o principal legado da Copa é o veículo leve sobre trilhos (VLT), obra que custará R$ 1,4 bilhão aos cofres públicos. As previsões mais otimistas, no entanto, são de que o projeto seja entregue apenas em dezembro, seis meses após a realização do Mundial na cidade.

Os atrasos nas obras da Copa tiraram o ímpeto dos investimentos, que seria o principal efeito do torneio na economia do país. Na África do Sul, o último país sede, os gastos com infraestrutura dispararam de 4,5% para 10% do PIB nos anos anteriores aos jogos. No Brasil, conforme cálculo de economistas, a taxa de expansão foi bem mais modesta: de 1,8% para 2,3%.

Outra meta ainda não alcançada é melhoria da infraestrutura dos aeroportos, um desafio que se torna mais urgente diante das dimensões continentais do país. A cinco meses da Copa, oito das 12 cidades sedes ainda não concluíram nem ao menos 50% das obras necessárias para a ampliação e reforma dos terminais aéreos. Em alguns lugares, como no Recife, o projeto da nova torre de controle nem sequer saiu do papel. Sem a opção aérea, restará ao turista contar com a sorte para enfrentar estradas esburacadas e mal sinalizadas, além de percorrer grandes distâncias para acompanhar os jogos. 

Dois dos aeroportos que mais vão receber turistas durante a Copa ainda estão em reforma, e dificilmente ficarão prontos até a realização do torneio, em junho: Confins, na Grande BH, e Galeão, no Rio. Após incumbir a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) de tocar as obras nos dois terminais, o governo decidiu conceder os aeroportos à iniciativa privada, como já havia feito com os terminais paulistas de Guarulhos e Viracopos e com o Juscelino Kubitschek, em Brasília.


 


A burocracia estatal atrasou o andamento dos leilões, que só foram realizados em novembro do ano passado. Para tentar agilizar as obras, o governo estuda antecipar em três meses o prazo de entrega dos aeroportos às empresas vencedoras, numa tentativa de aumentar o ritmo das reformas.

OUTRO LADO Em nota, o Ministério do Esporte diz que os reflexos econômicos da Copa do Mundo na economia só serão conhecidos após a realização do Mundial. "Até esse momento, todas as avaliações resultam de previsões", argumentou o órgão. O governo também rebate as críticas de que os atrasos e postergações de projetos de investimentos tenham afetado o impacto econômico do torneio. "Não é verdadeira a afirmação de que o governo abandonou projetos de infraestrutura", diz o texto.

O ministério ainda encaminhou à reportagem estudo feito há quatro anos pela consultoria Ernst & Young que projetava em R$ 142,39 bilhões o impacto dos jogos na economia nacional, entre 2010 e 2014. Por fim, a nota afirma que a Copa é "uma oportunidade para alavancar investimentos em infraestrutura que vão beneficiar a população. São obras em mobilidade urbana, aeroportos, portos, telecomunicações, segurança e turismo".


 


Gasto maior só nos estádios


 


Brasília - O freio no ímpeto dos investimentos para a Copa do Mundial ocorreu porque parte do dinheiro público utilizado nas obras serviu para erguer estádios e centros de treinamento a serem utilizados pelas seleções que disputarão o torneio de futebol. "Havia a expectativa de grandes investimentos em mobilidade urbana, mas os gastos mais fortes se concentraram mesmo nos estádios de futebol. Esse tipo de obra, apesar de importante para a realização dos jogos, não tem nenhum impacto relevante de estímulo sobre a economia", diz Armando Castelar, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutor em economia pela Universidade da Califórnia.

Em 2010, o então presidente Lula disse que o Brasil realizaria "a Copa da iniciativa privada". Entretanto, desde então, o governo gastou bilhões em obras para a realização do evento. Relatórios da Controladoria-Geral da União (CGU) mostram que, de 2010 a 2013, a União já empenhou R$ 7,5 bilhões apenas na construção de estádios. O montante não considera as obras tocadas com recursos dos governos regionais, como o Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília, que foi bancado pelo GDF, e que pode ter custado R$ 1,8 bilhão aos cofres locais.

Os gastos bilionários, entretanto, pouco contribuirão para estimular o crescimento da economia, diferentemente do que ocorreu em outros países em desenvolvimento que sediaram a Copa do Mundo. Em 2013, segundo cálculos do Itaú Unibanco, o PIB brasileiro deve ter crescido 2,2%. Neste ano, a estimativa do banco é que a economia desacelere, com uma alta de apenas 1,9%. Para 2015, a projeção é de expansão de 2,2%.

O PIB sul-africano, por exemplo, teve uma elevação considerável no ano do torneio. Um ano antes da Copa, em 2009, o PIB do país havia caído 1,5%. No ano do evento, o indicador cresceu 3,1% e, em 2011, avançou 2,2%. Vale lembrar que o período foi marcado pelo aprofundamento da crise econômica mundial, que teve reflexos também sobre a economia brasileira. "Não foi só assistindo à TV que o PIB melhorou durante a Copa na África do Sul", observa Armando Castelar. "Diretamente, o impacto econômico da Copa já não é tão grande, mas, certamente, é maior nos países que conseguem aproveitar o evento para desengavetar projetos de desenvolvimento produtivo, como a reforma e a ampliação de estradas, portos e aeroportos", diz.

EFEITO POSITIVO Mesmo em países ricos, que tiveram que fazer menos investimentos em infraestrutura básica, o efeito da Copa sobre o PIB foi positivo, como ocorreu na Espanha, em 1982. Um ano antes do evento, a economia espanhola havia encolhido 0,4%. No ano dos jogos, houve incremento de 1,2% e em 1983, elevação de 1,7%. O mesmo ocorreu na Alemanha, que sediou o evento em 2006. A economia cresceu 0,8% em 2005, 3,9% no ano dos jogos e 3,4% em 2007. (DB)


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